Então... Digamos que eu tenha encontrado o risco de matar minha vida inteira num ato irresponsável. Isso, digamos que isso tenha sido besteira. Mas eu estive inconsciente e posso ter sonhado com rostos febris e iguais aos meus, sussurrando canções doces como Pagan Poetry ou tão harmoniosas quanto Old Joe Clark, e sonhado com laranjas fatiadas e um beijo gelado enquanto mastigava a preliminar de um suicídio barulhento. Talvez ao despertar tenha notado a quantidade estranha de horas que fiquei descoberta à mercê de todo aquele frio artificial, em um quarto decorado ao estilo judaico. Quero dizer, acho que ainda nem saí pela porta da frente dessa casa que agora se tornou integralmente minha, entretendo-me com leituras atrasadas que subitamente me vejo ansiosa por concluir, uma por uma, uma por cada lágrima que há dias não consigo derramar. Acho que ainda tenho nos lábios, o adocicado morno do achocolatado que, juntamente com os cigarros obtidos desonestamente (who cares?) têm sido minha única fonte de alimentação. Não que eu não queria comer coisas, não que a despensa esteja esbanjando escassez, não que não, eu só ainda não estou faminta o bastante pra pôr algo nutritivo na boca. Duas aulas perdidas, e eu me pergunto se amanhã terei coragem de andar na rua, ao encontro de pessoas hostis, e as pessoas nunca me veem realmente, então... Deve haver algo de errado com minha misantropia funesta. Algo que denuncie algum leve desequilíbrio como consequência do isolamento forçado, como... Aversão ao contato com outras pessoas. Aversão em pensar em ser tocada. E que tão belos anos juvenis tenho perdido por não apreciá-los... Digamos que não tenho expressado preocupação. Então ficamos somente no "digamos".
Um comentário:
No auto da minha insônia misantrópica, como no seu texto digo que é um belo escrito e muitas das citações me pareceram de verdade, familiares...
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