segunda-feira, outubro 18

Neo. Neo?

Os dias se antecipam sem que eu tenha meios para acompanhá-los. As horas que antes arrastavam-se, agora travam sangrenta corrida em direção ao fim de uma jornada que, ao meu limitado ver, não deixará bons resíduos. Fico horas a fitar um teto branco-azulado na tristonha tentativa de adormecer naturalmente. A medicação como fuga parece ter chegado ao fim. E talvez, talvez haja alguma leve mudança nessa casca habitada por pequenos parasitas. Mudanças me assustam. Eu nunca realmente parei pra pensar no quão diferentes as coisas à minha volta conseguiram ficar. Bem, a casca continua igual. Casca infestada por incômodos vermes hematófagos. Mas meus dias de apatia tornaram-se mais longos, etéreos, calmos. Eu não consigo gritar. Eu não consigo escrever. Eu não consigo olhar sem pedir perdão com pupilas enegrecidas pela sombra da dor. Minha boca antes enraivecida encoleriza-me com esta recente mania de sorrir sem motivo. Estou tal e qual uma latrina entupida. Estou com um vazio que difere do que costumava abrigar há meses atrás. Estou num chão menos áspero.

Um comentário:

Guilherme disse...

E quantos dias mais eu terei que me sentir assim?
Muito, muito bom :/