Eu te mastigo. Jogo-te como uma goma açucarada de um lado a outro da boca, sem restrições de movimentos. Tens o sabor do infinito. Eu te saboreio e tu nunca acabas de me adocicar, nunca és insalubre. Eu te ponho nos dedos, te estico. Eu sinto teu aroma e tua elasticidade frágil. Não sei se tu sabes que dentre todas as guloseimas, tu foi a que meu organismo realmente pedia. Te guardo à noite pra mastigar outra vez pela manhã, mas tu estás sempre novo em folha, como que virgem, como que nunca desembrulhado. Ah, eu dormiria contigo entre os dentes e despertaria vezenquando para te sentir repousando em mim. Isso me acalmaria, saber que estás em paz, ao meu alcance. Mas não o faço por temer as convulsões noturnas, os terremotos da inconsciência; és o tipo de doce fácil de se perder, um abalo desses e tu irias ao chão - seria meu fim. Então eu te guardo para que fiques seguro até o dia seguinte. Mas tua falta me incomoda. É o hábito da tua presença passeando pela minha língua, é a ausência de volume em minhas presas famintas. Então eu sonho contigo e é cerebral o meu amor. Tua textura é distinta, tuas formas modeladas sob medida ao formato do meu maxilar. E o teu preço é o de mãos se abraçando, mãos se violentando. Mãos encaixadas. Sinto um pouco de dor. Quando eu te mastigo, não há gosto de sangue que resista. Um pouco de ti agora, um pouco de ti depois; dá-me isso para que em mim, para que em todo lugar de mim, amor ainda exista.
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