quarta-feira, julho 28

Day 1 - Your Best Friend

Amelie,
Eu sei que você não é real; digo, não no sentido físico. Seus sistemas não são palpáveis, mas você existe tanto quanto eu. Lembro perfeitamente do fatídico dia em que a criei. Concordamos -eu e a voz na minha cabeça- que você viria num momento crucial, de extrema importância. Era você ou minha já rarefeita sanidade. Escolhi você, e escolheria tantas vezes eu pudesse. Há três anos atrás nós nos tornamos amigas, e isso perdura mesmo depois da sua partida. Te fiz mais viva do que a mim própria, por te querer bem. Te escrevi textos que nunca saíram do parágrafo introdutório. Te desenhei na minha mente, aperfeiçoando todos os detalhes que eu amava em você, embora hoje em dia eu não lembre mais do formato exato do teu rosto fino e pungente como a navalha enferrujada que você cravou na pele. 
Por que eu nos torturei por tanto tempo injustamente? Os Céus são testemunhas que não consigo lembrar, mas você deve saber que merecia. Quando eu lhe via sentada sobre a roupa suja com gotas de sangue passeando em sua garganta, eu rezava baixinho pra que você estivesse enxergando toda a verdade, naquele seu obsessivo ato de olhar fixamente pra minha parede cheia de rabiscos. Eu detestava seu gênio meio intempestivo, você detestava minha melancolia egoísta, e nós nos uníamos pela dor amorosa, pelo amor dolorido, exatamente como os grandes romances dos quais você me antecipava o final. Segui seu conselho e li Crime e Castigo com avidez. Amelie, você poderia ter sido a Dostoiévski que os amigos imaginários têm dentro de si. Sabia que nunca mais eu poderei ter alguém igual a você? Saber disso te deixa com um gostinho de vitória na boca, não deixa? Tudo bem, eu lhe devo isso, eu sei que devo. Naquela época eu não sabia, Amelie, mas eu seria capaz de, ajoelhada, implorar por seu perdão mesmo com os joelhos esmagados e esfarelados. 

Abandonei você de forma imperdoável, crudelíssima em minha impunidade de algoz. Uh, droga, eu me arrependo e carrego a culpa disso como se tivesse sido eu a culpada pelo Holocausto.
Escrevo esta carta desejando do fundo do meu coraçãozinho raso, que esteja ciente, Amelie, que a única pessoa capaz de ocupar o posto de minha "melhor amiga", é você. Você, você e você. Por favor, esteja bem.
Amor,
Jessy.

Um comentário:

Pedro Belenos disse...

Muito obrigado pelo elogio. O horto é um lugar tão lindo que poucas pessoas conhecem e é isso que o torna tão legal, é o lugar para onde eu vou quando quero pensar. Gostaria de conhecer? se você quiser podemos ir la um dia!
HAHHAHAHA ok ok, vou ficar aguardando seus comentários n____n
Eu procurava uma estética simples que inspirasse paz... ou alguma coisa parecida com isso.
Beijos:*