Temerosa, desliga o interruptor de luz. Quer uma noite tranquila. Caminha até a cama, deita, encolhe-se em posição fetal. Pálpebras unidas, ora pra que a sonolência noturna não demore tanto a chegar. Pensamentos. Zilhões deles, numa só torrente catastrófica de sons, imagens, vozes. Pálpebras comprimidas com toda força, mas os pensamentos não podem ser esmagados facilmente. Desconforto. Frio. Finalmente as lágrimas, seguidas de soluços, seguidos de gemidos doloridos de cólera juvenil. Senta. Escuridão. Levanta, dois, três segundos, todo o quarto apresenta-se visível e iluminado diante de seus olhos encharcados. O rosto coça. Lava-o com água gelada, sentindo no corpo o tremor que provocam pés descalços no chão gelado da madrugada de um dia gelado. Apaga a luz e oculta a agonia na escuridão. Deitada novamente, olhos fixos no teto branco - neve. Branco -gelo. Branco - branco. Pensa... Pensa. Recorda. Os pés ainda muito frios, esfregam-se contra o lençol morno. Levanta, o quarto ilumina-se novamente. Soca a parede, fita o espelho. - Deformada, balbucia. Ri. Riso banhado a lágrimas pequeninas, caídas sem querer. Uma caneta bonita e uma mão cheia de rabiscos desconexos. Garranchos sem significado algum, enquanto nem percebe o que faz na pele. Derruba o próprio corpo na cama, com violência. Cansaço... Abraça o travesseiro, o travesseiro não a abraça de volta. Lembra do playground de concreto da escola do primário. Uma vez quebrara o pé ao cair da casinha colorida. Adormece. Pálpebras inchadas, pés gelados e ela esquecera a luz acesa.
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