segunda-feira, fevereiro 13

É quase manhã, eu quase fui feliz.

Eu não acho que posso me acalmar. Estou escrevendo pra não me ferir. É madrugada e todos dormem a sono profundo e impenetrável. É fácil tirar sangue de mim, é fácil assim, sou quase hemorrágica ao toque. Você disse que cuidaria de mim. Você disse, você disse, e eu precisava muito disso, e eu escancarei a alma pra você, e é pesado fechá-la de volta, guardar o que restou de mim. Ainda não acabei. Só encontro filho da puta. Filhos-da-puta! Magoam e violentam e é tudo proposital. Sou um bom alvo. Até acho que gosto. Bem, estou certa de que as pessoas gostam. O que sinto não é amor, é uma frágil dependência. Vai passar em uma ou duas semanas. Estou tentando não me ferir, estou escrevendo porque não quero me ferir nunca mais, nunca mais mesmo, não posso falhar, não posso me punir sempre que ofendida, sempre que usada, sempre que humilhada. Você disse que cuidaria de mim mas está sempre tentando me machucar de alguma forma. Por quê? Que foi que te fiz? Que foi que te tirei? Deixa-me! Estou bem sozinha, sempre estive segura em reclusão, por que me aborreces e me tortura? 

(...)

Devia ter aparado as unhas. Contorcia-me na cama e feri-me no rosto. No rosto ignóbil, carente de semblante. Espera, vou pegar um espelho. Aqui. Aqui está. Vermelhidão. Esse rosto me inspira violência, muita violência. Quero matar esse rosto que parece tão absurdo, tão horrendo e ainda tão passível de golpes. Um pequenino ponto de sangue fino, além de marcas que fazem minha pele latejar, serão imperceptíveis pela manhã. Saí-me bem. Mas meu coração parece ter garras.  Estou  chorando como não fazia há meses. Sinto falta da minha medicação. Eu morria um pouco enquanto me induzia à inconsciência. Morrer é bom. Amar não é bom. Não posso mais me ferir por ninguém. Sinto ânsias. Horas de jejum fazem-se doloridas quando meu pranto sai em soluços e meu corpo inteiro se contorce. Quanta ira e desespero meu coração transborda! Enlouqueci há muito tempo, Preciso de alguma ajuda. Mas... qual nada! Ninguém realmente vê. As lágrimas são muitas e pesadas, gordas, encharcam-me a face e o travesseiro. Penso em morrer, somente em morrer a duros e rápidos golpes de faca. Tenho uma, escondida em algum lugar. Não quero lembrar. Não posso tocá-la. Não posso me ferir de novo, esta dor ardente no meu peito é insuportável - senti isso milhares de vezes e todas doem com intensidade progressiva. 

(...)

Não raciocino direito, sempre fui estúpida. Tenho cabelos nas mãos e uma ardência forte no antebraço. Meu maxilar dói como o inferno, vomitei o vazio, mas o vazio dói muito quando vomitado. Tossi um pouco de sangue estomacal. Ninguém veio. Ninguém realmente vê coisa alguma. Deixei um cigarro queimando sozinho, sozinho como eu me sinto. Não tenho forças, estou esperando as coisas que ingeri fazerem algum efeito ruim. Ninguém pode me ajudar comigo, sempre fui estúpida. Desculpem.

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