segunda-feira, fevereiro 3

Janeiro foi quando te arrastaram do meu lado. Você não protestou. Eu ouvi coisas sobre você como se elas andassem de mãos dadas com o vento. Um vento que passava levando as palavras como um borrão auditivo. Eu sabia que você era problema, mas tudo em você tinha um sabor bom. Sou filho da pós-modernidade, sou autojustificável por ser hedonista. Eu fiz aquele pacto sem saber por que você gostava de se machucar a qualquer pretexto. E eu fui apressado. Muito. Você detesta minha pressa, a pressa em todas as pessoas. Ela é impeditiva. Ela me impediu de ler você quando eu já não fazia distinção entre pingos de chuva e passos de desconhecidos. Você tentou me alertar. Suas mãos segurando meu rosto e meus olhos fixos nos seus lábios, que moviam. Foi o momento que tive a certeza, eu era seu. Sem o menor esforço você me tinha por inteiro. Eu doí por isso, e me alegrei por isso. No instante seguinte os mesmos lábios jaziam colados muito forte aos meus. Eu bebi suas lágrimas por todas aquelas semanas. Você tirou tudo que eu tinha pra dar. Aplacou minhas crises febris. Você, etérea, me esterilizou, me traiu. Levou embora minha pressa. Os pingos de chuva agora são apenas os pingos de chuva.

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