O ritmo bate-estaca dos primeiros segundos da canção acompanhava as batidas da minha pulsação. Um estrondo de bateria e a melodia arrebatadora do violino despertaram minhas lágrimas de puro sal. "Olha - eu quis dizer -, eu desisto, tá? Desisto mesmo. A doença fere meu coração sutilmente, todos os dias. Não sei se, por mim mesma, ainda tenho chances de curar tantas marcas. Me leva contigo, eu não vou ficar aborrecida." E a voz que proferia a canção era a voz macia e tristonha que ecoava em minhas entranhas. Já era tão tarde, e eu imaginei que fosse passar outra noite em claro. Meus dedos enxugavam a água que escorria pelos olhos manchados de preto, e eu as ordenava que parassem de cair. A maior prova de minha fraqueza. Não tardou muito pra que os soluços me sacudissem com violência. "Aquelas não são minhas pessoas. E eu não sei onde elas se escondem." Adormeci. Sabendo que no dia seguinte as coisas estariam tal qual como todos os outros dias. Ásperas, caladas. Ciumentas. Raivosas. Medíocres.
Iguais.
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